9/4/2016

Olá avô,

Hoje é o teu aniversário! Fazias 71 anos. Infelizmente não podes estar cá para celebrares connosco. Há 8 anos que não podes. Mas eu sei que a culpa não é tua. É do cancro. Não sabes o quanto eu gostava dos teus abraços, de todas as palhaçadas e de todos os desenhos que fazíamos juntos e que me ensinavas a fazer. Obrigada por me ensinares que as asas das borboletas são simétricas. Obrigada pelas vezes em que me deixavas mascarar de hospedeira e distribuir comida por ti e pela avó. Sempre foste o meu herói. Só queria ser como tu. E depois lanchávamos juntos.

Faz hoje também um ano que cortei o cabelo para doar ao IPO. E sabes quem me inspirou? Tu! Acho que é importante. O cabelo cresce, e há pessoas que precisam mais que eu. Orgulho-me muito de o ter feito e não me arrependo nada.

Sabes, a avó é a mulher mais forte que conheço. Hoje ela está a fazer um esforço para não transmitir energias negativas, mas eu sei que ela está a chorar por dentro. Fazes muita falta cá. Desde que foste embora muita coisa se passou. Entrei para a escola e o Diogo também. Nasceram dois novos membros na família Silveira: o Rodrigo, que já tem 7 anos, e a Laurinha, que faz hoje um mês. Finalmente tenho primos maternos.

Quem me dera que viesses cá a casa para te mostrar as fotos da viagem. Quem me dera receber chamadas a dizer Avô Zé. Quem me dera que me desses sugestões de livros para eu ler, e vice versa. Eras a pessoa mais parecida comigo.

O Joca também morreu. Era um gato independente, mas amoroso. É duro ver alguém a morrer lentamente. Mas é a lei da vida, e quanto a isso não podemos fazer nada.

Sei que estás sempre connosco, onde quer que estejas. Desculpa não te ir visitar mais vezes, mas a verdade é que nunca deixei de fazer o luto. Ainda tenho muitas saudades tuas. É uma angústia que não dá para matar. Acho que não foi coincidência as minhas primeiras palavras terem sido “Ô ié”, porque o que eu queria dizer era “Avô Zé”. Saudade é aquilo que fica daquilo que não ficou.

Amo-te muito ❤ Parabéns!